Do Brasil, é difícil imaginar o ambiente literário europeu do século XIX, no qual não somente se ganhava algum dinheiro com literatura, mas era possível viver de ficção. Só de imaginar um pagamento, qualquer pagamento, precificado pelo número de páginas escritas, é algo que faz o cérebro travar. Menos absurdo que conjeturar um editor que pague alguma coisa por literatura, é pensar no ato da criação invadido por pensamentos como: “Cobrarei tanto por página”, “Oferecerei a obra a este e àquele editor”, “Preciso finalizar o livro para receber”… E isso como regra! experimentado por praticamente todos os autores! Então, o pensamento voa para os aspectos econômicos: esta obra foi vendida por tanto, aquela por outro tanto, este autor vendia tantas obras por ano, aquele outras tantas, e assim por diante. E pensar nos autores que fizeram a literatura brasileira, financiando o próprio trabalho, publicando por um misto de dever e amor, e sem jamais contar com a possibilidade de ganhar uma vida com a literatura. O contraste é brutal!
Quando se observa, uma única vez…
Quando se observa, uma única vez, uma criança a perder a inocência, o conceito que se faz do homem não pode permanecer. Aqui, passa-se algo indizível, com muito esforço simbolizável, mas que palavras nenhumas conseguem precisar. Lembra-se do Éden, lamenta-se, contudo o próprio lamento é dúbio, porque é difícil classificar a experiência como inteiramente má. Na criança, algo se perde; porém algo se ganha. O estado anterior, decerto, não retorna, e por isso parece haver para a experiência uma espécie de condenação. Mas esta, se acarreta alguma mágoa e alguma saudade, inaugura uma nova dimensão. A criança, ao perder a inocência, começa a tornar-se consequente; e é a partir deste momento que o mérito poderá florescer.
O orientalismo ter virado moda no ocidente…
O orientalismo ter virado moda no ocidente no último século e, como se espera das modas, ter corrompido as virtudes de seu objeto, não mudou em nada o fato de que, ao ocidental, o oriente pode ser extremamente instrutivo, e até encantador. Porque, a despeito da moda, permanecem os contrastes e, a despeito da moda, permanecem as lições. Este lado positivo, mais do que nunca, tem de ser ressaltado; talvez se há inclusive de admitir que, graças à moda, há hoje um número de traduções que seria impensável há dois séculos. A sabedoria antiga tem a vantagem da solidez: deturpem-na quanto quiserem, mas os textos continuam como são.
O historiador da filosofia pode muito bem…
O historiador da filosofia pode muito bem traçar o curso das correntes de pensamento ao longo das décadas, identificando tendências aqui e ali, e tê-las como formadoras de resultados que ele mesmo identifica. Fazendo isso, tem-se uma visão talvez não da evolução do pensamento, mas da origem das ideias, de que tipo de estímulo as incentiva e a que tipo de estímulo elas respondem. Isso é algo certamente proveitoso; contudo, o panorama histórico é insuficiente para que o intelectual se possa dizer senhor de tais desenvolvimentos. Para tanto, é preciso que, interiormente, ele viva o processo, assuma como suas as ideias expostas e deixe que, dentro de si, elas tomem o caminho que quiserem. Talvez não se possa fazê-lo para todos os problemas filosóficos; mas, especialmente para os mais atuais, esse exercício costuma conduzir a conclusões bem diferentes daquelas que brotam com ares de imediata consagração.