Independentemente da linha adotada, o crítico sempre terá o julgamento da obra literária condicionado à força com que ela penetrou-lhe e se lhe gravou no espírito. Portanto, os elementos que identifica, como a coesão do enredo, a veracidade dos personagens, a beleza da expressão, a relevância dos temas abordados, tudo isso, é como se se provassem tanto efetivos quanto conseguem tornar a obra memorável, e consequentemente mudar, ou enriquecer a compreensão que o próprio crítico tem da realidade. A valorização da novidade, pois, é justificada porquanto a novidade acende uma luz inédita no espírito. Enquanto o crítico permaneça a julgar adotando esta linha, fará uma crítica que pode ser subjetiva, porventura injusta, mas sempre autêntica. Em contrapartida, adotar a via contrária será sempre um desperdício e um desvio de sua função.
Quando se vence o medo da morte…
Quando se vence o medo da morte e se passa a olhá-la com benevolência, as linhas que se escreve saem carregadas de um novo valor. Se a ignoramos, podemos ser iludidos e adotar um objetivo falso para escrever; podemos nos esquecer do verdadeiro valor das letras. Mas se a encaramos, se a aceitamos e se passamos até a estimá-la, o ato da escrita toma algo de transcendente, e encara-se o trabalho como aquilo que de mais nobre se pode fazer.
É difícil imaginar o ambiente literário…
Do Brasil, é difícil imaginar o ambiente literário europeu do século XIX, no qual não somente se ganhava algum dinheiro com literatura, mas era possível viver de ficção. Só de imaginar um pagamento, qualquer pagamento, precificado pelo número de páginas escritas, é algo que faz o cérebro travar. Menos absurdo que conjeturar um editor que pague alguma coisa por literatura, é pensar no ato da criação invadido por pensamentos como: “Cobrarei tanto por página”, “Oferecerei a obra a este e àquele editor”, “Preciso finalizar o livro para receber”… E isso como regra! experimentado por praticamente todos os autores! Então, o pensamento voa para os aspectos econômicos: esta obra foi vendida por tanto, aquela por outro tanto, este autor vendia tantas obras por ano, aquele outras tantas, e assim por diante. E pensar nos autores que fizeram a literatura brasileira, financiando o próprio trabalho, publicando por um misto de dever e amor, e sem jamais contar com a possibilidade de ganhar uma vida com a literatura. O contraste é brutal!
Quando se observa, uma única vez…
Quando se observa, uma única vez, uma criança a perder a inocência, o conceito que se faz do homem não pode permanecer. Aqui, passa-se algo indizível, com muito esforço simbolizável, mas que palavras nenhumas conseguem precisar. Lembra-se do Éden, lamenta-se, contudo o próprio lamento é dúbio, porque é difícil classificar a experiência como inteiramente má. Na criança, algo se perde; porém algo se ganha. O estado anterior, decerto, não retorna, e por isso parece haver para a experiência uma espécie de condenação. Mas esta, se acarreta alguma mágoa e alguma saudade, inaugura uma nova dimensão. A criança, ao perder a inocência, começa a tornar-se consequente; e é a partir deste momento que o mérito poderá florescer.