O escritor cuja vida é involuntariamente invadida…

A despeito da recomendação geral, o escritor cuja vida é involuntariamente invadida e transtornada pela política não tem o direito, mas o dever de inserir política em sua obra literária. Isso é, em suma, uma obrigação para com as gerações futuras, às quais tem de transmitir o sabor de sua experiência pessoal. Não fazê-lo é negar-se. Um preso político, pois, ainda que contrariado, perdeu o direito de calar-se a respeito da opressão sofrida, e é justamente a ele destinada a missão de dar travo político às linhas, pois é justamente ele que tem como amparo a circunstância que todos os outros não têm.

O clássico, o mais frequente e compartilhado drama…

O clássico, o mais frequente e compartilhado drama entre escritores é o anseio desesperado pela liberdade, que é atravancado pela impossibilidade de alcançá-la pela escrita. Quer dizer: a consciência do sentido de missão, a vontade ardente de realizá-la, mas o obstáculo natural e característico da profissão, a qual só com muita sorte ou após muito trabalho duro pode ser exercida com dedicação integral. Não há fugir desta sina; mas talvez, graças a ela, perdure a escrita, ainda hoje, como autêntica vocação.

Grande parte dos obstáculos à criação…

Grande parte dos obstáculos à criação são superados no momento em que se rompe a inércia; daqui em diante, o trabalho é mais corrigir, mais aperfeiçoar que propriamente criar — ou, ao menos, assim parece, o que dá no mesmo para a mente que trabalha. O movimento, após iniciado, confere uma fluidez que como induz, se não automatiza a sequência, tornando absolutamente mais fácil o prosseguir, em comparação com aquele medonho iniciar. É, portanto, forçar o início, para não se permitir jamais engolido pela inércia.

Após assentar um processo criativo eficiente…

Após assentar um processo criativo eficiente, o que deve imediatamente fazer o profissional da criação é encontrar uma maneira de dar vazão às suas manifestações mentais espontâneas, ou melhor, deve encontrar uma maneira de transformá-las, mecanicamente, em algo artisticamente aproveitável, para que evite não somente o perdê-las, mas perder-se em meio à confusão de uma miríade de ideias imprecisas e desconexas, cujo mirá-las mais facilmente o conduzirá à paralisia do que à ação.