O escritor cuja vida é involuntariamente invadida…

A despeito da recomendação geral, o escritor cuja vida é involuntariamente invadida e transtornada pela política não tem o direito, mas o dever de inserir política em sua obra literária. Isso é, em suma, uma obrigação para com as gerações futuras, às quais tem de transmitir o sabor de sua experiência pessoal. Não fazê-lo é negar-se. Um preso político, pois, ainda que contrariado, perdeu o direito de calar-se a respeito da opressão sofrida, e é justamente a ele destinada a missão de dar travo político às linhas, pois é justamente ele que tem como amparo a circunstância que todos os outros não têm.

Mais curioso que exemplos como o de Baudelaire…

Mais curioso que exemplos como o de Baudelaire, que encontrou noutras bandas o seu ensaio de teoria estética já descrito e praticado, é depararmo-nos com autores, coevos ou não, que se assemelham em conteúdo e forma, embora se desconheçam. Os exemplos não são poucos, e atestam que a manifestação literária autêntica é um impulso antes instintivo, antes associado às particularidades da experiência que ao estudo propriamente literário.

A poesia não se basta a si mesma

A poesia, tal como sugere Guyau, não se basta a si mesma e, se grande, é a forma que positiva uma motivação ainda maior. É por isso que, em suma, o valor da arte atrela-se ao valor da motivação artística. A escolha pela forma poética é a vontade de gravar na superior e mais difícil dentre as formas literárias aquilo que se manifesta sincera e violentamente no íntimo: é, enfim, o apreço por esta singular manifestação.

O clássico, o mais frequente e compartilhado drama…

O clássico, o mais frequente e compartilhado drama entre escritores é o anseio desesperado pela liberdade, que é atravancado pela impossibilidade de alcançá-la pela escrita. Quer dizer: a consciência do sentido de missão, a vontade ardente de realizá-la, mas o obstáculo natural e característico da profissão, a qual só com muita sorte ou após muito trabalho duro pode ser exercida com dedicação integral. Não há fugir desta sina; mas talvez, graças a ela, perdure a escrita, ainda hoje, como autêntica vocação.