Causa riso a falta de criatividade destes roteiristas que, ao representar um escritor, precisam obrigatoriamente descrever um período em que ele experimenta o tão falado, tão romantizado e tão ridículo “bloqueio criativo”. Todos os profissionais de todas as áreas possuem processos, possuem método, possuem uma sistemática de trabalho que os permite obter resultados a despeito de oscilações de humor, de ânimo e de criatividade; exceto, é claro, esta besta do escritor, que insiste em sentar-se diariamente diante de uma tela branca, sem ter absolutamente nada planejado. É lamentável dizê-lo mas, infelizmente, esse tal “bloqueio criativo” simplesmente não existe para escritores profissionais. Sentar-se diante de uma tela branca é somente amadorismo; e o escritor profissional que o faça não faz senão agir como amador. Não é preciso muita experiência para perceber que o processo de ideação de enredos, capítulos e poemas pode ser executado em grande parte longe da mesa de trabalho, relaxadamente, em ambiente por vezes mais propício para a criação. Não é preciso muita experiência, também, para perceber ser mais fácil executar um plano que planejar do zero e, em seguida, executar o planejado. Não, não… é preciso continuar representando o escritor como uma besta, que teima em sentar-se diariamente para resolver todos os problemas de uma só vez, o escritor que se senta e aguarda que desça do céu um anjo e lhe guie a mão… Que piada!