Dois escritores sinceros deveriam cultivar mutuamente um sentimento semelhante ao que deveria haver entre dois adversários políticos bem-intencionados: um sentimento de respeito e identificação. Em ambos os casos, porém, são raríssimas as exceções que sobrepujam a mesquinharia corriqueira. Deixando de lado superficialidades como estilo, escolas, gerações, salta aos olhos o fato de que dois escritores, sejam eles quais forem, possuem um elo que os diferencia do restante dos homens, ambos fizeram uma escolha idêntica perante o problema da existência, e o natural é que tal distinção se convertesse numa afinidade. Muito mais concordam em escolhendo a literatura como veículo de expressão da consciência que divergem em aspectos exteriores da vocação. Admiti-lo, contudo, é dificílimo e parece exigir uma virtude que poucos deles possuem.