É um fato espantoso este de que, no Brasil, os poucos grandes intelectuais, os verdadeiramente grandes, passem sem deixar legado. Talvez seja algo único a nível mundial. Em todos os países onde se pensa e se escreve, é possível traçar precursores e sucessores, é possível colocar numa linha do tempo os grandes nomes e seus influenciados, é possível, em suma, notar que um grande espírito ecoa e ecoa vistosamente após morrer. No Brasil, não. No Brasil o grande intelectual desaparece tão espetacularmente como surge. Nem um Nelson Rodrigues, de sucesso estrondoso e inédito, foi capaz de transmitir algo de si a outra cabeça pujante. Morreu como morreram os outros: enterrando consigo o gênio criador.