A despeito de parecer hoje inexistente após décadas de sistemática e veemente relativização, o senso comum permanece como a mais sólida baliza moral do homem ordinário. Não é a lei que o orienta, não é na lei que ele pensa quando age ou deixa de agir. Se não mata, se não rouba, é porque assim prescreve o senso comum, havendo ou não havendo lei. O efeito desta, aliás, graças ao Estado moderno, é torná-lo sempre mais ou menos infrator. Quer dizer: se não corresponde a lei ao senso comum, não é possível enxergá-la como justa, e seu efeito não pode jamais ser educativo, como teoricamente se pretende. E disso tudo, o mais curioso é que chegará o dia em que alguém terá de notá-lo, terá de notar a falência do direito moderno perante o antiquíssimo senso comum. E, então, caso se queira transcrevê-lo juridicamente, já não será possível — a menos que se admita novamente a religião.