Diz Ferreira de Castro, sobre a escrita de A selva:
Era das seis e meia às oito da noite, depois de haver estendido num divã, durante alguns minutos, a fadiga trazida, como um fato de chumbo, do magazine e do jornal, que me embrenhava na Amazónia. E nem todos os dias, porque a vida tinha ainda mais exigências e outras vezes eu regressava a casa tão exausto, tão saturado de papel em branco e de papel impresso, que me faltava disposição, frescura e forças para retomar a minha pena.
Este tipo de relato, para além de desmontar a romantização da escrita, é também mais uma evidência de que a grande obra literária não sai sem que haja uma motivação descomunal, uma necessidade absoluta e irracional de escrevê-la, que suplanta pela força todos os possíveis obstáculos. Tomar consciência do cenário descrito por Ferreira de Castro diante do romance finalizado nos inclina a creditá-lo a algum milagre. Mas, decerto, nas grandes obras há menos milagre do que essa violentíssima sensação de dever.