Vencida a admiração inicial, imaginar os estados de êxtase descritos por Nicolae Steinhardt quando encarcerado é algo assaz instrutivo. Após deixarmos de questionar a plausibilidade dos relatos, ou melhor, após as aceitarmos, percebemos que é justamente na carência mais extrema, no sofrimento mais agudo que se pode encontrar o alívio supremo. Quando a vida se reduz aos seus rudimentos, vê-se claramente o mais importante, vê-se quanto nessa vida há de supérfluo, aquilo que a justifica e aquilo que se há de conservar. Mas a graça, sobretudo, é constatar que a miséria mais extrema e mais sufocante não é absoluta, nem a última palavra.