Sempre coube à filosofia, e não à religião, demonstrar que é-se antes, depois, e além da matéria. Até recentemente, tal argumento foi consensual, visto que o atestava o mais humilde camponês, ainda que dispusesse como ferramenta única de validação a percepção direta. Hoje, naturalmente, tudo mudou. E quando levamos em consideração a simplicidade do raciocínio que conduz à necessidade da antiga conclusão, é realmente um assombro a quantidade de obstáculos que o homem moderno tem de superar para alcançá-la. Ele tem de, primeiro, desfazer uma infinidade de enganos, despegar-se de uma série de noções estúpidas, em suma, deseducar-se. E o pior é que, dizendo desta maneira, não se expressa o tremendo esforço necessário para fazê-lo, que envolve um quase desligamento do próprio tempo e uma quase negação da própria experiência. Este esforço, como se vê, parece demandar a fibra de um devoto, e por isso a dita consciência, hoje, tem se alcançado mais facilmente pela religião do que pela filosofia.