De forma intempestiva, ponho-me novamente a escrever roteiros cinematográficos. O trabalho do momento, que começava a engatinhar, é interrompido. E não sei o que sentir. Perspectivas, tenho poucas, seja lá o que esteja criando. Mas a facilidade em cuspir páginas de roteiro salta aos olhos quando comparada à agonia da criação literária. O roteirista vê-lhe o trabalho avançar, todos os dias, e encontra manifesta satisfação. Um roteiro, a bem dizer, vale-se pela estrutura, pela eficácia na distribuição das cenas dentro de um formato predefinido e pela força na exposição de um arco dramático. O roteirista debruça-se na demarcação estrutural do texto: define o conflito, sua progressão ao longo da trama e seu desenlace; então o distribui em cenas, com posicionamento e extensão em conformidade com o arco dramático e o formato da obra. Depois é só formalizar ou, melhor dizendo, transformar o diagrama em texto. Com personagens bem definidos, os diálogos brotam com facilidade espantosa, em infinitas variações. Decerto, são eles em grande medida adaptáveis, substituíveis: o roteiro, que não é senão o esboço de uma obra, vale-se pelo próprio esboço. E eu, de artista, torno à função de diagramador.