Estou aqui, como um escritor profissional de piadas, deixando-me levar por meu espírito essencialmente analítico e dissecando os elementos do humor de qualidade. Penso em Voltaire. A ironia, se bem aplicada, não conduz às gargalhadas, mas entrega uma satisfação duradoura, sustentável por um longo intervalo. No caso de Voltaire, obviamente, os efeitos da ironia saem como que secundários a uma postura filosófica que lhe dita o tom da obra. Mas voltemos às piadas: parecem-me o absurdo e o exagero os elementos fundamentais das melhores, e a surpresa como resultado essencial. Aqui, as gargalhadas. O mesmo Voltaire fornece um ótimo exemplo: impossível não lembrar do inesquecível anabatista Jacques, qualificado como “bon”, “honnête” e “charitable” por várias páginas em Candide, cuja aparição sempre trata de evocar bons sentimentos e que, subitamente, ao pedir auxílio a um marinheiro em meio a uma tempestade, é atirado brutalmente ao mar pelo desconhecido. O exagero da violência, o absurdo do ato cruel, repentino e injustificável trazem, naturalmente, a gargalhada plena, mas não pelo simples exagero ou absurdo, e sim pela naturalidade com que ambos são apresentados. Neste detalhe parece-me residir o segredo do melhor humor: na exposição do grotesco como fosse vulgar.