É incrível notar o contraste entre textos antigos e textos modernos. Há nos antigos uma inocência — ao menos, parece-nos ser esta a palavra correta — que nos causa estranheza. Não podemos compreendê-los: há textos que a nós soam como escritos por crianças, ou por seres provenientes de outra raça, habitantes de outro mundo. Mais: os antigos, em sua maioria, quase sempre buscavam versar sobre o essencial — algo raríssimo em tempos modernos, onde a literatura é consagrada ao corriqueiro. Os textos antigos distinguem-se pela expressão de uma admiração, de uma reverência para com a realidade que parece-nos inimaginável. O homem moderno é destituído da faculdade do espanto: para ele, a existência é tediosa e o mundo enfadonho, velhíssimo e banal.