Saber inglês é dever do intelectual moderno. Em primeiro lugar, por ser a literatura inglesa a maior do mundo — isto é, a que possui em maior número e há mais tempo produz consistentemente autores de primeira linha; — em segundo lugar, por ser o que mais se aproxima de uma língua universal — ou seja, a língua de mais comum intercâmbio e, também, a língua da literatura especializada em grande parte das áreas do conhecimento; — finalmente, pelo fato de os ingleses terem traduzido tudo: amiúde é mais fácil encontrar uma tradução inglesa que um original francês, italiano ou espanhol, para não dizer de línguas menos populares. Saber inglês, portanto, não é somente facilitar a vida de estudos, mas obrigação posto a falta do inglês priva o estudante de muito do que há de melhor disponível. De tudo isso, o problema. O escritor de língua portuguesa, quanto mais se empanturra do inglês, mais deve lutar para que, em hipótese nenhuma, permita-o penetrar sua escrita. Uma língua cuja força, a simplicidade, é também a maior fraqueza: sintaticamente o inglês é limitado; se vertido ao português tem-lhe a pobreza escancarada. Más traduções do inglês são intoleráveis, e mesmo originais devem ser lidos com muito cuidado, de preferência intercalados com obras vernáculas, e a precaução deve ser idêntica à do químico que coloca luvas antes de trabalhar.