A poesia é uma construção musical em que a melodia das letras entranha-se no ritmo dos versos. Sem ritmo, não há poesia. Tire-se a rima, construa-se em versos irregulares, invente-se o que quiser — mas sem ritmo, não há poesia. “Se é assim, o que é a chamada poesia concreta?” Qualquer coisa, menos poesia. Como chamar poema uma construção ilegível, indeclamável? Se queriam inventar, que inventassem também um nome para a criação — “concrema”? Disto, é claro, não se conclui que esta chamada poesia concreta não seja arte; de fato ela é, mas uma arte visual, uma arte para ser contemplada, não para ser lida ou declamada. Que atirem as pedras! Admito emocionante deparar-me com um concrema em que a palavra “amor” está genialmente disposta em formato de coração; mas continuarei a julgar o concretista como artista visual, e não como poeta.