Dizem os teosofistas, para meu divertimento, que é dada ao homem a liberdade de escolher o seu local de nascimento. Minha mente voa… Pouco interessa a veracidade desta curiosa revelação: o divertido é raciocinar sobre a hipótese. Imagino-me, diante de uma entidade suprema, apontando, no mapa do mundo, a cidade em que nasci. Infinitas opções e, por volição simples, escolho uma cidade do interior de São Paulo — cidade de que não me resta uma única e solitária lembrança. Quero crer que a entidade tenha me apresentado outras bandas, exposto desde seus aspectos geográficos até culturais e que, mesmo assim, eu tenha escolhido nascer onde nasci. A pergunta seguinte é: por quê? Parece-me razoável uma única justificativa: meu orgulho — e corrijam-me os teósofos se são possíveis manifestações do orgulho nestas esferas da existência — deve ter pensado em algo como: “provarei ser capaz de desenvolver-me num ambiente hostil à minha natureza”. Muito bem! Será mesmo que, entre todas as possibilidades, eu e minha mente analítica, após meditação longa e cautelosa, tenhamos julgado esta a mais interessante? Ou talvez, se é vero o que dizem os teósofos de nascermos e renascermos numerosas vezes, eu tenha enjoado de praias paradisíacas, arquiteturas variadas, altos IDHs e todo o resto? Não, não, “enjoar”, não… Que concluir?