Constato, sinceramente, que o prazer estético que experimento ao ler os versos de Augusto dos Anjos é comparável ao que sinto ao ler Camões, Dante e qualquer outra sumidade poética. O engraçado é que, tecnicamente, a poesia de Augusto atropela todas as convenções: sinéreses a cada verso, palavras de pronunciação dificílima, e por aí vai. Mas as imagens vivíssimas e brilhantes que se revelam a cada estrofe, a expressão explosiva, a surpresa ao enxergar relações inesperadas e originalíssimas entre temas aparentemente desconexos, tudo isso parece gerar um efeito mais potente e determinante que as convenções estéticas. Em Augusto há um desespero, um pessimismo exacerbado que beira o ridículo mas materializa, contudo, um brilhantismo sem-par.