É incrível quanto se distancia da realidade o sujeito que se tranca numa universidade e emprega-se cem por cento em investigações acadêmicas. Se intelectual, desbarata-lhe a faculdade, empregando-a num mundo particular alheio à realidade. De resto, nem se queixa, pois exerce uma profissão: é como se aceitasse o preço. E nisto se perde a chama que incentiva o estudo porque vê nele a esperança de soluções para problemas de importância real. O intelectual necessita sofrer regularmente choques de realidade, para que insira realidade naquilo que pensa; caso contrário perde-se em futilidades e inutiliza o pensamento. Cioran, por exemplo, era mais filósofo cada vez que estourava ao comprar legumes no mercado e deixava que as consequências tomassem o formato de prosa francesa. Em resumo: o problema nunca foi isolar-se do mundo, e sim o abandonar por completo sua contundência deixando-se inundar da esterilidade das abstrações.