Releio os sutras de Patanjali, desta vez comentados por um místico indiano. Que diferença! Que abismo separa-o do mestre doutor especialista em metaética e filosofia da linguagem! Faltam-me palavras… Os concisos comentários do místico não vêm senão visando facilitar a compreensão prática dos sutras; objetivam, sumariamente, descomplicar quanto lhes possa haver de ambiguidade. O confronto com o senhor doutor é de dar dó… Parece o especialista ocidental meter-se num distanciamento intelectual que flerta com a burrice. Isola-se daquilo que analisa, traça infinitas comparações, como almejando o conhecimento perfeito da etimologia das palavras estudadas, mas indiferente a captar o que elas representam. Perde-se numa subjetividade irracional, porque é simplesmente absurdo ceifar de um estudo sério o elo com a realidade. É o cientista conhecedor dos detalhes técnicos de um experimento cuja finalidade ignora, o especialista em meditação que jamais meditou. As trezentas páginas de comentários de meu Yoga sutra ensinam menos sobre ioga do que o resumo de uma linha feito por Crowley: “Sit still. Stop thinking. Shut up. Get out!” — resumo este que, aposto o meu braço direito, jamais passou pela cabeça do mestre doutor.