É curioso notar que o fenômeno óbvio de acentuação secundária em palavras polissílabas não tenha entrado na cabeça de Castilho; mas impressiona ainda mais que, anos depois, o mesmo fenômeno tenha sido negado expressamente por poetas como Bilac e Guimarães Passos. A dizer a verdade, Castilho, um grande metrificador, não era perito em ritmo, tendo esta palavra aparecido uma única vez em todo o seu tratado de metrificação. E Bilac e Guimarães Passos, apesar da bela obra conjunta, limitaram-se a republicar a teoria de Castilho no Brasil. Cabe a Said Ali o mérito de ter sido o primeiro a refutar Castilho e dizer o óbvio: a pronúncia portuguesa natural exige um acento secundário em tais palavras, porque a língua repele três átonas em sequência desprovidas de apoio tônico. Em português, a acentuação real não segue um padrão binário, mas gradações, como argutamente notou Said Ali. O gramático se contenta identificando o acento dominante da palavra, mas o poeta não pode fazê-lo. O poeta tem de perscrutar, primeiro, as sutilezas do idioma e, segundo, o discurso falado. E precisa lembrar-se sempre que gramáticas são diretrizes, que periodicamente se atualizam e são de praxe desrespeitadas pela língua real.