O mecanismo psicológico precursor das desilusões é uma das faculdades mentais mais interessantes que se tem notícia. Manifesta-se ele como uma necessidade, uma tendência natural inconsciente de projetar idealizações em entes e situações reais. Nas mentes que o experimentam, toda a atividade mental consciente parece propensa a descolar-se do concreto e mesclar-se espontaneamente com tonalidades subjetivas e fantasiosas, criando como uma realidade paralela em que a experiência é intensificada e apresenta-se em aspecto ideal. Freud, é claro, classificou como doença mental o pouco que entendeu deste mecanismo. Mas se, por um lado, concorre ele a acentuar, senão produzir futuros contrastes desagradáveis entre expectativa e realidade, convém notar que a criatividade é inteiramente dependente desta capacidade de atribuir qualidades fantásticas à experiência concreta. Desde o poeta que idealiza a mulher amada ao engenheiro que cria em mente o impossível, todos eles têm a inventividade, e portanto o próprio distintivo, originária desta mesmíssima faculdade mental.