Já foi notado, e com sabedoria, que em épocas de crise não resta a um povo senão apegar-se ao passado. No desespero da incerteza escancarada pela crise, emerge a tradição como um porto seguro, e assim aquela é vencida tanto mais facilmente quanto mais sólido for o passado de um povo, quanto mais estiver ele entranhado e presente no estágio atual. Disto é evidente que há nações mais e menos vulneráveis; impressiona, porém, quando notamos que as ditas menos vulneráveis, ainda que por um curto período, convertam-se na negação daquilo que sempre foram, parecendo romper com o elo histórico que as define. Automaticamente pensamos: e então, que será? Mas é curioso notar que, o mais das vezes, por conjunturas que talvez escapem ao raciocínio, surgem as tradições — sempre elas — revigoradas, e acabam como salvadoras de um futuro que parecia resumir-se no caos.