Parece fictícia a biografia de Inácio de Loyola. Lê-la neste século, lê-la no ocidente observando que se tornou o ocidente, suas grandes cidades, suas preocupações, é como colocar-se diante de uma narrativa absurda. É de causar assombro a simplicidade como fatos estupefacientes se apresentam nesta “Autobiografia”, redigida pelo P. Luís Gonçalves da Câmara, que limitou-se a transcrever quanto ouviu da boca de Inácio. Algumas poucas vezes, lemos Inácio ter corrido risco de vida em sua trajetória, mas a impressão que ficamos é que, desde que saiu da casa paterna, esteve ele sempre em constante ameaça. Prisões, julgamentos, perseguições, doenças, incrível penúria… é difícil imaginar condições mais severas para este homem reputado santo. O simples superar a sexta década de vida, como fê-lo, já se afigura a nós, homens mal-acostumados, um verdadeiro milagre.