Muitos psicólogos colocam demasiada ênfase nos aspectos saudosistas da chamada “crise da meia-idade”. Não lhes nego a importância, mas creio configurarem tão somente a manifestação banal de um problema que pode ser muito mais profundo. Meia-idade geralmente denota encarar o fracasso, ver enterrado aquilo que um dia se chamou de “sonho”. Noutros casos, em casos de “sucesso”, caracteriza o período onde se escancara a inutilidade das próprias conquistas, a estupidez da vida cotidiana e a falta de ânimo para avançar. Tudo isso em razão de uma frustração quanto ao presente e não de um desejo de reviver o passado. Aos vinte, a vida é interessante porque promissora, porque repleta de “perspectivas” que o tempo cuida eclipsar. O indivíduo, então, depara-se imerso num vácuo. Em última instância, a meia-idade não faz senão lhe evidenciar a falta de sentido da existência. Mas faz, também, com que ele abra os olhos e raciocine, e se há algo que podemos chamar de “maturidade”, esta geralmente exige o que a psicologia clínica chama de “depressão”. O depressivo testemunha a própria sanidade mental.