Parece uma afronta, um insulto constatar Victor Hugo ter composto mais de cento e cinquenta mil versos em apenas uma vida. Cento e cinquenta mil! É inacreditável, uma verdadeira humilhação defrontar essa fecundidade inatingível, esse monumento poético proveniente da pena de um único homem. Se exercitamos a matemática, chegamos a uma média de produção diária que só parece razoável a alguém que empregue a vida inteira apenas em dormir e compor versos. Considerando todo o processo criativo que envolve a ideação, planejamento, estruturação, realização e apuro; considerando que uma mente normal esgota-se no cansativo trabalho de fisgar palavras no dicionário, e que portanto é inviável, desestimulante e até contraproducente uma jornada de trabalho muito longa, como justificar Victor Hugo? Como aceitar-lhe a obra poética, sabendo haver peças, romances, ensaios sob a mesma assinatura? É espantoso…