Exercitemos a imaginação: um homem, após muito meditar sobre o suicídio, após ponderar cautelosamente todo o tormento de que padece, conclui-o absolutamente injustificável. Busca um amigo, luzindo-lhe tibiamente a esperança de que há algo que não esteja enxergando, de que suas conclusões incorrem em erro desconhecido. O amigo dispõe-se, e começa a lhe falar sobre o cantar dos passarinhos. É possível, para o infeliz, não julgá-lo um insulto? Suponhamos, agora, um monge retornando a pé de longo retiro de silêncio. Uma senhora aborda-o na rua e diz estar receosa de que chova e molhe suas roupas estendidas no varal. Há, novamente, um contrate tão acentuado que parece oferecer o riso como única resposta. Pois bem: deste banalíssimo contraste, nasce uma flor de pétalas negras chamada misantropia.