A grande arte brota de uma motivação não artística; grande arte é o que se torna após modelada pelo artista. Fazer arte por fazê-la não pode senão gerar arte menor, e os exemplos são tão abundantes que é correto afirmar que a arte superior sempre será, em maior ou menor medida, autobiográfica. Não é preciso que se conheça a biografia de Shakespeare para conhecê-lo, visto que sua obra prova-nos de quais questões sua mente se ocupou enquanto viva. Shakespeare não seria quem é caso tirasse-lhe as peças do efeito artístico que tencionava produzir; assim como Dostoiévski jamais teria a mesma vitalidade se escrevesse romances a partir de “motivos artísticos”. A arte é a forma que se dá a uma motivação que não exige um artista para se manifestar — nem para a compreender.