A inveja é invencível. Talvez, entre todos os sentimentos humanos, somente ela possua esse caráter absolutamente inflexível. Poder-se-ia observá-la sob duas óticas: a de quem a exercita, e a de quem a sofre. O invejoso é um escravo deste sentimento que, se não estimulado, surge e robustece espontaneamente. Ainda que queira vencê-lo, não pode sem uma desfiguração de si mesmo; portanto, o mais que pode fazer é empreender um combate contínuo, e nele prosseguir a despeito das derrotas. Já o invejado, isto é, o paciente da inveja, que lhe resta fazer? Este, sem dúvida, encontra-se ainda mais impotente diante do problema, e parece nenhuma ação que porventura empreenda capaz de anulá-lo. Valha-se do desprezo, uma solução talvez razoável, e não fará senão desviar-se do natural incômodo que experimenta; não vencendo jamais o agente. Em resumo: a diferença, em ambas as perspectivas, parece simplesmente se reduzir a duas posturas: a daqueles que incitam, e a daqueles que evitam a inveja; ficando evidente, em ambos os casos, uma diferença tão somente de caráter, não de resultados.