Embora muito me divirtam as páginas de Voltaire e as de vários de seus discípulos, são as de Swift que julgo elevarem a ironia a uma manifestação verdadeiramente nobre. Não há dúvida: é preciso gênio para manejar a ironia; mas esta ironia que troça, que suscita um malicioso esticar de lábios, não é expressão de primeira categoria do espírito, lamentavelmente. A ironia de Swift raramente causa esse efeito agradável; o mais das vezes, o que ela causa é assombro. Dificílimo encontrar quem se lhe assemelhe… As linhas de Swift parecem repelir brincadeiras de qualquer espécie; a inteligência que as compreende imerge numa perplexidade que duvida daquilo que lê; é algo muito, muito distante de zombaria, mais parece agressão. Disto, notamos: se a ironia de Voltaire incomoda a muitos; não há quem escape ileso da ironia de Jonathan Swift.