É curiosa a maneira de Nelson construir prosa. Seja nos romances, nos contos ou mesmo nas crônicas, é claríssima a sua obsessão em enquadrar o texto numa estética predefinida — age em prosa como fazem em verso os poetas. O andamento de suas narrativas segue quase sempre um protocolo, e o resultado é um estilo pronunciado e inconfundível. Houve o tempo em que eu julgava a padronização essencial para o grande estilo. Hoje, enxergo um pouco diferente. Admiro construções regulares, mas creio preferir variedade: velocidade num dia; noutro vagar, lenta cadência, vírgulas em vez de pontos finais. Estilos, formatos, compassos, e não dinamismo estático ou lentidão terminante. O difícil, contudo, é identificar mestres em múltiplos estilos, capazes de satisfazer numa mesma obra os anseios do habituado a alentar-se trocando de prateleira.