“Em qual época você teria vivido, se pudesse escolher?” — atiram-me a pergunta intempestiva. Desprevenido, não consigo responder de pronto. Nem após reflexão. Ponho-me novamente diante da questão. Meu primeiro impulso é pensar: “Melhor seria não ter vivido nunca…” — mas recuso a ideia, não faz o meu perfil… Então penso nas variadas épocas e inevitavelmente sou levado a pensar nos variados lugares. Onde eu gostaria de ter nascido? Penso e, incrivelmente, tudo perde o brilho: vejo tão somente o que seria insuportável a mim em todos os tempos e em todos os lugares. A precariedade do asseio corta de antemão todos os séculos que precedem o XIX. Vejo-me com o horizonte crassamente reduzido. Em seguida, a mente obriga-me a cortar tudo que esteja entre os trópicos: antes a forca que o calor doze meses ao ano…. Então vejo minha graúda intolerância exterminar o tempo e o espaço. Sou assim tão difícil de agradar? tão afeito aos costumes? Penso na América. Grande América… Mas mesmo a América apresenta-me um grande problema: o americano; assim como a França o francês e a Alemanha o alemão. Viajo de norte a sul, percorro em mente os 360 graus do globo e volto dois séculos no tempo. Não sorrio, e chego à incrível conclusão que de todas as épocas, em todos os lugares, o melhor é estar exatamente onde estou: sozinho, no silêncio, vendo entrar pela janela a fresca brisa da chuva que cai lá fora…
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