É claro que, hora ou outra, eu acabaria encontrando a minha própria doença em livros de psicologia. Isso eu mesmo já havia previsto. Mas não foi sem surpresa que deparei-me com ela, precisa e incontestável, como a sorrir-me entusiasmada do primeiro contato formal. Analiso-lhe os sintomas e concluo: estou doente ou, antes, sou doente. O sagaz psiquiatra convence-me: padeço de uma enfermidade rara, preciso de ajuda, devo vencer-me a resistência, assumi-la e correr a um consultório. Se tiver humildade, se esforçar-me com sinceridade, posso ser convertido em um ser humano normal. Que coisa… Identifiquei-me de tal forma com a doença que forneceria, de bom grado, uma foto sorridente de mim mesmo para enriquecer com uma ilustração a enciclopédia de transtornos mentais. Mas como é feio o nome da minha doença! como é repugnante! Admito que sofro, que estou muito, muito triste, mas por que esse insulto nominal? Certamente, porque o termo de péssimo gosto ou o péssimo gosto do termo define com exatidão um animal de minha espécie ao especialista.