Em arte, o traço que talvez mais impressione e mais caracterize verdadeiros gênios é a multiplicidade. Se tomamos de exemplo um Fernando Pessoa ou um Shakespeare e lhes analisamos a obra, parece-nos incrível que manifestações tão variadas tenham saído de uma mesma mente. Quer dizer: se, enquanto lemos, nos atentamos não para a obra, mas para a mente que a gerou, buscando compreender-lhe as motivações e os intentos, ficamos impressionados ao notar como comporta oscilações por vezes antagônicas, e como logra expressá-las límpidas e potentes. É como se, confrontando-a com uma mente comum, notássemos que, de um lado, há um caráter vicioso e tíbio, e, de outro, há uma potencialidade criativa sem limites.