A plena objetivação operada pela modernidade e a subsequente doutrinação das massas para essa peculiar maneira de encarar a realidade produziu indivíduos carentes de uma importantíssima faculdade mental. Adestradas a considerar proibidas determinadas hipóteses, as novas mentes já crescem com um défice de possibilidades, que lhes são arrancadas pela raiz. Cada vez mais parece óbvio que a maior miséria desta época é ter objetificado o ser humano, e portanto lhe destruído a dimensão transcendente, resumindo-lhe ao caráter limitado e corrompido da matéria comum. As consequências desta noite terrível do espírito humano vão da desumanização ao emburrecimento, da destruição cultural ao regresso moral, do caos ao vácuo que se lhe tornou característico. Como foi possível chegar a esse ponto? Mais uma vez, parece certo quando Tolstói diz que há circunstâncias históricas que parecem definidas por uma força maior — resta-nos, como sempre, o espanto e a hesitação no conjeturar os porquês…