A poesia não deve ser cantada

Abrimos a janela e escutamos, da rua, a asseveração enfática de que a poesia não deve ser cantada. E da rua asseveram, também, como se deve declamá-la. Então buscamos um compêndio de poemas aleatório da prateleira. Abrimo-lo, mentalizando intensamente que “a poesia não deve ser cantada”. Para nossa infelicidade, porém, já no índice deparamo-nos com cantos, cantigas, cânticos, canções, e temos de fechá-lo imediatamente antes que nosso cérebro colapse. É muito pensamento racional! Da rua, ouvimos que aquele que canta um poema parece uma criança. Realmente, impressiona… Só com muito esforço conseguimos vencer tal disparate, quando enfim nos atemos ao óbvio: uma criança canta um poema porque, lendo com naturalidade, é impelida a cantar pela estrutura rítmica dos versos. Canta-o, em suma, por ainda não ter sido estragada por um adulto qualquer.