Burckhardt pergunta, em suas Considerações sobre a história universal, em que resultaria a inesperada “popularização” da ciência que se deu no século XIX. Cá estamos… A ciência a que Burckhardt se referia já não é a mesma. Esta foi aviltada a partir do momento em que deixou-se despegar da nobre finalidade e permitiu-se aplicada a interesses vis. Desvirtuada numa espécie de autoridade que contraria a humildade característica da investigação verdadeiramente científica, profanada como instrumento político, servil à ditadura do dinheiro, já não se pode mirá-la com a admiração de outros dias. A própria arena científica, ainda que a isolemos de influências externas, está corroída por conflitos de interesses comparáveis aos que se dão na política. Aliás, que é que não se corrompeu após a ascensão “popular”? Mesmo Burckhardt, com sua nobre e radical repulsa à cultura do money-making e à plutocracia ainda em gestação, se espantaria ao ver como, hoje, tornou-se perigoso ignorar os impactos sociais e econômicos de uma possível investigação científica. O resumo: nada resiste a uma “popularização”.
A “popularização” da ciência
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