Certamente já notaram que a virtude é simples e o vício complexo. A virtude não dissimula, e apresenta-se quase sempre banal, chocha, sem graça, o que frequentemente engana sobre sua natureza. Já o vício, é difícil que o enxerguemos, de pronto, como vício: comparando-o com a virtude, nele temos uma apresentação mais charmosa, mais instigante. A virtude é simples porque, para justificá-la, jamais se necessita mais que uma meia dúzia de palavras ou do imediato senso comum; já o vício vale-se de possibilidades mais sofisticadas do argumento, e sua dialética convence justamente pela sofisticação. A reflexão sobre tais qualidades parece sugerir o dualismo entre forma e conteúdo — e as conclusões que tiramos evidenciam, a contragosto, aquela que valorizamos mais.