Um sujeito que apanha regularmente a chicotadas é tomado de alegria sempre que o chicote cessa. Alegra-se muitas e muitas vezes durante a vida. Aprende, à força, a agradecer e a valorizar os momentos que sobressaem ante a sua condição natural. Já um rei… como agradá-lo? Não é possível: um rei nunca pode ser feliz. Um rei tem tudo, exceto aquilo que quer, e o que quer é a satisfação plena de seu desejo, que não tem limites. Raciocinando dessa forma, chega-se a duas conclusões: a primeira, de que a alegria exige um contraste positivo; a segunda, de que o desejo a impossibilita. Num rei, é impossível qualquer contraste positivo, posto sua condição jamais mudar significativamente para melhor. Quanto ao desejo, há de ser um Marco Aurélio ou, exatamente como se passaria a qualquer ser humano em suas condições, é forçado a vê-lo insuflar-lhe de um desgosto insistente e invencível.