Algum filósofo notou ser a obra filosófica a repercussão de um lampejo único e decisivo, a partir do qual facilmente se delimita um antes e um depois. Tal lampejo é decerto observável; mas o curioso é que ele, ocorrendo de praxe antes dos trinta, aponta somente o caminho, o incontornável caminho, mas não assegura para onde este conduzirá. Pelos trinta, não há como negar, faz-se filosofia mais ou menos como se faz literatura: registrando e discorrendo sobre impressões. Estas, ainda que verdadeiras, ainda que determinantes, parecem pedir tempo para cristalizar. Quer dizer: a admirável, a impressionante segurança com que se expressam alguns filósofos de cabeça branca quase nunca é igualada por filósofos mais jovens, o que parece sugerir que o grande filósofo descobre-se cedo, mas só se realiza após um longo tempo de maturação.