No diário de Cesare Pavese, o suicídio pode ser facilmente entrevisto posto que encontramos, primeiro, a ideia suicida que lhe afigura repetidamente como solução, e, segundo, oscilações temperamentais que lhe turvam a razão. Em Antero de Quental, o quadro é todo outro. Antero é, entre outras coisas, um estoico — e isso implica simultaneamente as capacidades de aceitar a realidade e de controlar a si mesmo. Em Antero, a despeito do conflito psicológico atrocíssimo, encontramos a razão tomando as rédeas do instinto, e disso decorre que o espírito, acostumado a oscilações agudas, também vê-se acostumado a convertê-las em impulsos profícuos através da meditação. Como, aos quarenta e nove anos, pôde Antero suicidar-se? Por um lado, parece-me óbvio estarmos todos sujeitos às suscetibilidades da raça; por outro, parece-me errôneo querer atribuir causas comuns a um homem incomum.