Por mais plausíveis, racionais e, sobretudo, sedutoras que pareçam essas novas filosofias da “indulgência” que brotaram no século passado, lamentavelmente pouco elas sabem sobre a natureza íntima do desejo. Embora haja, sim, algum fundamento na crítica dos métodos empregados pelas religiões para condenar a natureza humana e inocular nas almas um sentimento de culpa muitas vezes injustificado e embora, sem dúvida, a repressão violenta dos impulsos pode produzir monstros morais, o caminho da “indulgência” em nenhuma hipótese conduz aos resultados que estas filosofias prometem. Erram elas porque julgam que a indulgência entregará satisfação para as almas, mas esta, pelos meios propostos, é muito, muito fugaz. A indulgência não torna o indulgente senhor dos desejos, assim como não é por repressão que são estes superados. A satisfação perene é proveniente de uma elevação pacífica sobre a carne, um voltar-se inteiramente a algo mais elevado, que não é senão a adoção de uma escala de valores diferente daquela dos homens comuns. Mas aí está: para os novos filósofos da indulgência, adotar tal escala é impensável. O que eles jamais entenderão é que nem todo homem padece do desejo, porque há quem torne suas manifestações simplesmente insignificantes.