É um verdadeiro choque entrar em contato com as páginas de Jakob Boehme. O primeiro impulso é perguntar: como é possível? O universo místico que lhe permeia as linhas parece impensável, inconcebível, imperceptível ao medíocre ser humano. De onde tão engenhosa imaginação? de onde essa concepção da vida que põe de joelhos a banalidade do concreto, tornando irrisório aquilo que os olhos podem ver? A noção do sentido último, a visão dos caminhos, a filosofia que implica uma conduta… todas essas manifestações de um espírito luminoso e respeitável, do qual escuso-me de fazer juízo de valor. Mas o que mais espanta, o que trava o raciocínio e atira o cérebro em perplexidade é estar ciente, a cada página, que o autor das linhas era sapateiro!