Foi algum teosofista que disse as religiões terem surgido adequadamente, cada qual à civilização em que irrompeu. Parece uma afirmação demasiado poética, que implica uma harmonia universal só existente na fantasia, e refutada violentamente pela história. Antes de civilizações, há indivíduos, e a estes geralmente não é oferecido um cardápio de crenças, para que eles escolham conscientemente a mais adequada a si mesmos — pior seria julgá-los essencialmente adequados ao próprio meio. O correto seria dizer que as civilizações moldaram as religiões que em si floresceram, sendo elas apropriadas ou não. As religiões sempre medraram em meio a intenso conflito, verdadeiras batalhas quer a nível social, quer individual. A primeira prova de uma religião é sobrepor-se às crenças anteriores. Disso extrai-se o óbvio: tivessem nascido as religiões tão perfeitamente adequadas ao meio, teríamos paz, e não, como evidencia a história, uma progressiva e violenta “adequação”.