Aí está algo que me desagrada: classificar estas notas por temática. Burocracia irritante, quando quero simplesmente escrever. Sobre o que escrevo exatamente? Eis um enigma — mas quem se importa? — E outro enigma muito mais difícil, e tão pouco importante quanto, seria classificar esta Casa-grande & senzala. Aqui, contentamo-nos com “história”. Mas seria mesmo história? Ou sociologia? Antropologia? Um ensaio ou literatura? Nenhum destes ou tudo isso misturado? Gilberto Freyre, ainda em vida, teve de ouvir numerosas críticas aos mais diversos aspectos da obra, contudo ainda hoje, quase um século após sua publicação, não há, talvez, um único livro capaz de mostrar-nos com tamanha abrangência e detalhamento os aspectos de formação da sociedade brasileira. A obra entrega o contexto histórico, psicológico, antropológico e sociológico desde os princípios da colonização analisando a evolução e os precedentes da vida cotidiana em diferentes núcleos sociais. Os críticos bem apontam Gilberto Freyre ter deixado de preencher alguns formulários… Verdade, verdade… Os formulários… As 72 páginas de bibliografia da obra deveriam ser, naturalmente, 572. Mas se o leitor, indulgente e benigno, for capaz de lidar com esse descuido imperdoável, esteja certo de que Casa-grande & senzala entregará, em linhas de intelectual apaixonado pelo país em que viveu, o cheiro dos séculos passados — cheiro esse, aliás, incrivelmente semelhante ao que exala de nossa pele.
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