Do alto de um telhado espiritual…

Um trecho de Fernando Pessoa, em seu maravilhoso Livro do desassossego:

De repente estou só no mundo. Vejo tudo isto do alto de um telhado espiritual. Estou só no mundo. Ver é estar distante. Ver claro é parar. Analisar é ser estrangeiro. Toda a gente passa sem roçar por mim. Tenho só ar à minha volta. Sinto-me tão isolado que sinto a distância entre mim e o meu fato. Sou uma criança, com uma palmatória mal acesa, que atravessa, de camisa de noite, uma grande casa deserta. Vivem sombras que me cercam — só sombras, filhas dos móveis hirtos e da luz que me acompanha. Elas me rondam aqui ao sol, mas são gente.

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Necessidade de calor

Vejamos palavras de Nikolai Berdiaev, em tradução do francês:

O que há de mais terrível para um ser humano é quando todo o mundo a seu redor parece-lhe estranho, hostil, frio, indiferente à sua miséria e à sua infelicidade. Um ser humano não pode viver no frio glacial: ele necessita de calor.

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Natureza maldita

Vamos de Blaise Pascal:

Nada é tão insuportável ao homem quanto estar em pleno repouso, sem paixões, sem negócios, sem divertimentos, sem atividades. Ele então sente seu nada, seu abandono, sua insuficiência, sua dependência, sua impotência, seu vazio. Imediatamente sairá do fundo de sua alma a angústia, o negrume, a tristeza, a aflição, o despeito, o desespero.

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