O século XXI talvez tenha operado a mais drástica mudança comportamental de toda a história, e a evidência disto é o contraste patente entre as últimas gerações. Recordo-me a infância e a juventude e comparo-a com a atual: o jovem que fui aparenta de outra espécie. Mas engraçado! O jovem que fui presenciou, vivendo, esta mudança. O que experimentei, na rua, já praticamente não existe, e mesmo para mim deixou de existir. Entretanto, a escola de que fui aluno desde cedo e, aos quatorze ou quinze anos, deu-me o diploma após me exigir todas as manifestações mais extremas da licenciosidade, fazendo-me o sangue experimentar picos de adrenalina que jamais sentirei novamente e treinando-me para a vida, parece morta. Digo isso porque, após certa idade, já se não entra nessa escola: a idade traz facilitadores que inviabilizam o aprendizado real. E os jovens de hoje, trancados, protegidos das emoções e dos perigos da rua, crescem ignorando-a. Mas aqui está o contraste maior: aos vinte, eu via-me um velhaco cansado do mundo; aos vinte, um jovem de hoje vê-se inapto ao mundo e, por vezes, — oh, tragédia! — louco para experimentar.