De todas as características do intelectual moderno, tal como concebido por Paul Johnson, talvez nenhuma cause mais estranhamento — ou seria vergonha? — do que essa desmedida vaidade, que não se limita a um alto conceito que o intelectual faz de si, mas pretende uma dívida inata dos outros para consigo mesmo. Que dizer? Faltam palavras para essa pretensão, bem ilustrada pelas divertidíssimas “begging letters”. Nada anormal na aflição proveniente da ausência de meios, acaso geradora de um sentimento de injustiça, tal como experimentado por Raskólnikov. Mas este, ao menos, age; ainda que imprudentemente, busca pelo ato próprio aquilo que julga merecer. Um delírio, é verdade, mas o emprego da força denota a consciência da ineficácia do argumento, do disparate que seria a tentativa de convencer alguém de uma dívida em razão de sua superioridade. É este um descolamento tão grande da realidade que só pode mesmo remontar às questões mais elementares da criação…