Pensando em Tolstói, leio dezenas de páginas de Valéry sobre Mallarmé. Digo: pensando nas severas críticas de Tolstói a este último e seus pares simbolistas. Diz Tolstói que a grande arte deve ser acessível e universal, e portanto artistas obscuros como Mallarmé pervertem e falsificam a arte. Segundo Valéry, Mallarmé foi o responsável por “introduzir na arte a obrigação do esforço de espírito”, e artistas como ele destacam-se por criar valor e beleza do vazio. Que dizer? Lamentavelmente, e o cotidiano só faz corroborar, a sensibilidade artística não foi distribuída de forma universal, como julga Tolstói. O mestre e seus mujiques… Acessível não pode ser critério qualitativo de uma obra artística, do contrário seria subordiná-la ao público. Vale o que diz um analfabeto sobre a qualidade de um livro? O valor de uma obra nada tem que ver com quem a recebe. Bilhões viveram e vivem despegados de qualquer contato com a arte, a maioria das cidades não possui um teatro ou uma orquestra ativa e decente: a arte, hoje, está reduzida ao supérfluo, não é vista senão como entretenimento. Isso, é claro, pela maioria, a mesma maioria cuja ascensão subverteu e praticamente aniquilou a função social real da arte. Uma grande obra artística, potente e sincera, geralmente só é contemplada por um público seleto, porque os demais tampouco se lhe interessam. Perde a arte? É claro que não… Contudo, faz-se necessário expurgar da mente a noção de que o coletivo é o árbitro soberano: a nível individual, a arte continuará sendo o que sempre foi. Em verdade, o saldo é bem positivo. O mundo é melhor quando a grande arte não se entrega a preguiçosos nem serve de passatempo a idiotas.