É provável que chegue o dia em que será necessário um diploma para publicar formalmente um poema. E assim a questão ficará ainda mais exposta: os diplomas conferem qualidade indispensável para a literatura? ou, antes: os diplomas conferem qualidade indispensável para qualquer coisa? Naturalmente, virá à tona a resposta óbvia: não, casas sempre foram construídas por quem nunca teve diploma. E imagino sonetos clandestinos infinitamente superiores aos portantes do selo de qualidade acadêmico, evidenciando que a academia tornou-se muito mais uma instituição burocrática, um negócio gerador de emprego e receita, um pré-requisito obrigatório para exercer qualquer função do que propriamente uma entidade que ensina o que é relevante para exercer uma atividade profissional. Em aproveitamento do tempo, é radicalmente mais proveitoso o estudo independente ante o cumprimento de burocracias acadêmicas e das muitas horas empregadas em nada quando se estuda numa universidade — basta avaliar, por exemplo, o tempo de locomoção à instituição de ensino e seu peso na equação, para não dizer da qualidade do que é ensinado ou das disciplinas absolutamente inúteis. Laboratórios, estruturas físicas dispendiosas, estas provavelmente continuarão a ser monopolizadas pelas universidades. Para as atividades do intelecto, porém, a conclusão não pode ser diferente: se um dia vierem a ser premiadas pelo mérito, o mundo será dos autodidatas, e a gigantesca e onerosa estrutura acadêmica estará, fatalmente, condenada ao colapso.
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