É bem sabido que, do nascimento à vida adulta, todos somos submetidos a uma sucessão de fases, ou problemas, passíveis de uma esquematização que parte desde a consciência do meio e da individualidade, até problemas mais complexos como a racionalização das emoções ou a integração social. Todos o experimentamos, embora em idades que possam variar e em circunstâncias certamente diversas. Nisso percebemos que pode ser estabelecida, também, uma hierarquia de problemas, dos mais básicos aos mais complexos, geralmente atrelados a faixas etárias, de forma que, para lidar com problemas mais altos na hierarquia, é preciso ter superado, ainda que provisoriamente, os problemas anteriores. Tal avanço envolve uma mudança gradativa nos focos de interesse, uma mudança natural e necessária, exigida pelo próprio amadurecer. É impróprio ao adulto ainda digladiar-se, por exemplo, por autoafirmação, visto que é este um problema característico da adolescência. Igualmente, uma crise existencial verdadeira é característica de um adulto maduro e bem formado. De tudo isso, nota-se o seguinte, raríssimas vezes observado pela crítica literária: o artista, por mais hábil que seja, se se concentra em problemas mais básicos e mais universais, seguramente atingirá um público maior e será melhor compreendido; contudo, a sua obra simplesmente não poderá sustentar o interesse de alguém com o conhecimento da relevância de tais problemas e de sua posição na hierarquia geral, alguém para o qual tais problemas já se encontram há muito superados, e portanto cujo interesse voa por altitudes muito superiores. Daí que não há como fugir: o artista, para ser realmente grande, não pode se limitar a servir o grande público.